domingo, 14 de outubro de 2018

Civilização da Madeira

Instiga-nos a floresta. Nela há mistérios, mas sobretudo vida. E saber que quase tudo provém da água, do ar e do sol. Do solo – parte também essencial -, provém apenas 5% da biomassa vegetal. Nutrientes como fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre também. E do sol, a energia. A luz. A atmosfera fornece elementos-chave: carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio. Cada vegetal - para sua formação -, em menor ou maior escala, assimila até quinze elementos químicos. Maravilha de mãe-natureza. A falta ou excesso prejudicam. Comprometem o equilíbrio homeostático. Daí a agricultura recorrer à adubação - maneira de supri-los. Ou por outra: pôr a casa em ordem. 


Daí Paulo Alvin - cientista brasileiro -, afirmar com sabedoria: a agricultura é a arte e a técnica de explorar a luz. E a Amazônia não é o pulmão do mundo. O pulmão do mundo está no mar. Repousa nas algas. Pequenas usinas flutuantes que através da fotossíntese processam gás carbono e água, e liberam oxigênio. Para isso necessitam de muita energia. Energia que provém do sol. O mesmo fenômeno ocorre na floresta, em cada folha. Cada folha assemelha-se é uma pequena usina. Algas e folhas, eis o milagre da natureza, e por que não da vida. 

Na superfície terrestre e nos mares, a partir da linha do equador, seja rumo ao norte ou ao sul (latitude) a luz do sol atinge a terra com amplitudes térmicas diferenciadas. Nos polos norte e sul, geleiras imensas. Ou por outra: no polo norte, no ártico – os ursos; e no polo sul, os pinguins. E no entorno da linha do equador até os trópicos: o arco de florestas. Biomas naturais. E também zonas desérticas. É teia alimentar projetando-se, sempre com o homem no topo. Como uma corrida de 4 por 100, cada atleta passa o bastão adiante. A vitória, neste caso, não se restringe a personagens isolados, mas ao conjunto. Quando for assimilado este processo, certamente, a natureza será tratada com mais respeito. 

Houve, entretanto, lá atrás, um período em que o homem temia a natureza. Fazia leituras equivocadas. Animais ferozes na terra e no mar apavoravam. E fenômenos naturais: tornados e enchentes, estiagens e vulcões sinalizavam um cenário sombrio. Estamos livres disso? Obviamente que não. Mas, graças à ciência, os interpretamos, podendo assim prevenirmo-nos. Espécie de armistício. 

Divagações à parte, por que então civilização da madeira? Simples. A madeira proveniente da floresta, permitiu ao homem que saia das cavernas, erguer abrigos mais seguros. Constrói embarcações. Pontes. Peças de arte. E cabo de ferramentas. E até barris para armazenar água e curtir fermentados. O barril de carvalho, quanto ouvimos falar dele. Agora tem a umburana, do cerrado brasileiro. E a madeira fornece papel e celulose, resinas. E também medicamentos. E muito mais. 

Graças à madeira, evoluímos. O desafio, porém, contínua. Das espécies nativas, pouco conhecemos. Tudo está por prospectar. 

Ressalte-se, no entanto, por fim: o dia em que reproduzirmos em laboratório o fenômeno da fotossíntese com a mesma eficiência da natureza, certamente a história da humanidade não será mais a mesma. A civilização da madeira, portanto, apenas se descortina. 


Fonte: Artigo de Onévio Antônio Zabot, publicado no Jornal Notícias da Vila. 


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