sábado, 13 de junho de 2020

Artigo - Gabiões do rio Piraí

Arrozeiras. Arrozeiras e água, eis uma associação secular. No oriente são célebres os reservatórios e sistemas de irrigação. Poucas plantas se desenvolvem em áreas alagadas. Neste aspecto o arroz se destaca. Pelas folhas supre a necessidade de oxigênio demandada pela planta; daí ser conhecido como tesouro dos pântanos. Impressionante, nas cheias, há espécies selvagens que crescem conforme sobem as águas. Uma vez domesticado, e, gradativamente, selecionado disseminou-se mundo afora. Hoje, centros internacionais armazenam sementes de milhares de espécies. Reservas estratégicas. Célebres bancos de germoplasma. 

No litoral catarinense, na vertente atlântica, em torno de 150 mil hectares são cultivados. A produção ultrapassa hum (01) milhão de toneladas. Alta produtividade, portanto. Crescente, haja vista melhoramentos genéticos. Seleção de cultivares de arquitetura apropriada para captar a energia solar, transformando-a através da fotossíntese em biomassa. 

Tivemos o privilégio de estudar ciências agrárias na Universidade Federal de Santa Maria, terra das arrozeiras. E por lá aprendemos a importância da água na produção de arroz. Antes disso presenciamos a apreensão de rizicultores que o cultivavam no sequeiro. Qualquer estiagem, e nada de produção. Panículas choças. Cena estarrecedora: caçar nuvens de chuva no céu. 

Mais tarde, no projeto Rondon, em Estrela do Norte, Goiás, o drama do cerrado. Janeiro sem chuva. Arroz cacheando. Zero de produção. Aquilo marcou-me sobremaneira. 

Ao estudar a cultura, no entanto, informação preciosa do professor Mussoi, célebre mestre, chama a atenção: 

– Não há como se plantar arroz sem antes armazenar água. No caso, açudagem. Todos os alunos exercitavam um projeto de açudagem. E, no caso do arroz, o número era taxativo: 20 mil metros cúbicos de águia armazenados por hectare cultivado. 

Tradicionalmente, o Rio Grande do Sul sempre se destacou como produtor de arroz. Por lá - o Instituto Riograndense do Arroz (IRGA) – coordena as políticas de apoio, destacando-se pelo quadro de profissionais que o compõem, extremamente qualificados. 

Ao atuar em Joinville, verificamos que a lavoura de arroz estava consolidada, com extensa área de cultivada na bacia do rio Piraí. Tivemos o privilégio de introduzir cultivares mais produtivos, o que elevou a produtividade. 

Chamava atenção, no entanto, o sistema de irrigação, por gravidade. Água captada no rio Piraí e conduzida por canais até as lavouras. Sete canais com cerca de 70 quilômetros de extensão. Malha respeitável. 

Vez por outra o sistema de captação entrava em colapso. Daí a necessidade de melhoramentos. Obras de contenção. Tornaram-se célebres os mutirões. Prefeitura e agricultores, unindo-se, recuperavam os gabiões. Trabalho árduo, porém, gratificante. 

Gabiões são cestas aramadas que, preenchidas com pedras miúdas, e devidamente posicionados, elevam o nível das águas ao barrá-las, o que aumenta a vazão dos canais de irrigação. Organizados, através da Sociedade de Distribuição de Água (SODAJ), os agricultores, não apenas contribuíam para a manutenção do sistema, mas especialmente para que todos recebessem a devida cota de água em tempo hábil. 

Ressalte-se, todo este sistema foi projetado lá atrás – década de 1950 -, na gestão do prefeito Baltazar Buschle, cuja liderança marcou época. 

Sobre os gabiões do Piraí, não há como não citar a participação da prefeitura, especialmente da administração da Vila Nova, à época dirigida por Manoel Mendonça e seu fiel escudeiro, o fiscal Barkemeier, e também da Fundação 25 de Julho, órgão municipal de apoio ao setor rural. 

Nos dias atuais, em função da legislação, esses mutirões inviabilizaram-se. Uma pena, pois era uma forma de reduzir custos, e fortalecer parcerias, especialmente entre o setor público e a comunidade rural. 

Joinville, maio de 2020 

Onévio Antonio Zabot (Artigo publicado no jornal Notícias da Vila, edição de junho de 2020)

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